O meu príncipe encantado usa perfume do bom, da loja mesmo, não da papelaria.
É alto e diz que eu sou pequena. Mas não olha para mais ninguém. Beija a mão das minhas amigas e sorri para mim no entretanto. É cordial, abre a porta do carro, espera que eu me sente, pergunta o que eu quero e escolhe quando eu não sei… Dá-me mimo mesmo como eu gosto.
No outro dia disse-me: “Quero-te para sempre assim“. “Assim, como?”, perguntei eu. “Assim… minha”.
No dia seguinte, escreveu-me isso no espelho da casa de banho, com sabão. De manhã quando vi, sorri e não liguei. Mas acreditei.
Quando estou doente, parte a comida e dá-me na boca. Uma garfada, um beijo. E assim tudo passa. Até dor de barriga do período.
Quando me vê, diz sempre uma piada só para ver o meu sorriso. Olha para os meus lábios quando me quer beijar mas eu finjo que não vejo. Fico com vergonha.
O meu príncipe encantado fala com sotaque e espanta-se com tudo o que digo. Quer sempre falar comigo, só para perguntar alguma coisa porque acha que eu sei tudo, que sou mais inteligente. E eu acho que só diz isso para me fazer feliz.
Quando me deixa sozinha, diz-me sempre que vai ficar comigo no coração. “Vou ficar aí escondido, mas não digas a ninguém”. Diz que “vamos encontrar um lugar só nosso, a meio dos nossos lugares”. É mentira, mas não faz mal porque é bonito. E faz-me sonhar e acreditar em mentiras. Faz-me crescer.
Nem reparei quando o meu príncipe encantado chegou. Veio em bicos de pés e sentou-se ao meu lado a jogar às cartas. Ficou ali a olhar para mim e eu não reparei. Quando o vi pela primeira vez, notei que era bonito e senti a cara a aquecer. Mas ele não reparou. Só depois é que gostou de mim. Soaram as doze badaladas e ele sentiu. Depois queria estar sempre comigo para me sentir.
Canta-me cantigas de embalar e eu acredito nas letras. É forte mas diz-me quando tem medo e eu protejo-o. Ele fala com os olhos e eu assim percebo-o melhor. Mas não lhe digo o que sei…
Sei que ele não é o meu Príncipe Encantado.
Textos do Baú
Maio de 2006
terça-feira, outubro 17, 2006
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3 comentários:
Assim com textos comoventes destes não dá vontade de mandar piadas, pá!
Adoro adoro adoroooooo!
Tens a certeza que nao foi escrito hoje, ontem, a semana passada?
Lindo!
é.. eu tb perdi o ar quando li isto.
foi mesmo escrito em Maio... e é tão hoje.
bju amora*
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