sta sabe
"Disfarçadamente desapertei o cinto das calças e, agora sim, comecei a olhar para a Nanda, tanto mais que por sorte ela tinha-se sentado justo à minha frente. Mulata boa e de boa altura. Cabo-verdeana de São Vicente. Com chique no estar. Parecia deslizar como uma gata, as longas pernas num andar manso, levantando o braço para dispor uma travessa com a graça de uma carícia sensual, o vestido amarelo justo no corpo desenhando as ancas magras, os seios sob o vestido parecendo pequeninos mas firmes. Hoje certamente já não, mas naquele tempo, se tivesse que comparar a um vinho, teria que ser um vinho retinto, bem encorpado, daqueles que penetram na língua e resistem a tada a casta de escova de dentes e aí pelo menos com os seus doze e meio, treze graus. Não comes mais?, perguntou e sobressaltei-me porque ela me tinha surpreendido em flagrante delito da sua despudorada contemplação. Sorria, e reparei nos dentes brancos, certos, bonitos. Desculpa, estava distraído, consegui dizer, mas acho que estou cheio, tenho tanta pena, nunca tinha comido uma cachupa tão sabe. Basofo, sorriu ela com um chocho na boca que me pareceu uma carícia, todos os cabo-verdeanos são basofos. Isso não é verdade, respondi, pelo menos eu não sou basofo. Pois, continuou ela, só dizer isso já é uma grande basofaria, mas são bons moços, melhores que os badios. Ela ainda tinha essa mania das gentes de São Vicente: Cabo-verdianos, só as pessoas de Barvalento."
As palavras de Germano Almeida, Memórias de um Espírito ao som de Mayra Andrade, Navega
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